quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As mulheres apedrejadas do dia a dia - Artigo publicado no Jornal A CIDADE de 19/09/2010

A figura do homem macho, forte, destemido e, por isso, autoritário, sectário, de prática agressiva e soberana, já não cabe mais no mundo moderno, onde impera a razão, a consciência, a igualdade, a fraternidade e o respeito ao próximo.

O que se viu recentemente no Irã foi que a pressão internacional, a revolta de mulheres de todo o mundo e a repercussão do caso, em meio à opinião pública, suspendeu uma condenação à morte.

Foi assim que Sakineh Mohammadi Ashtiani acusada de adultério, se salvou de morrer apedrejada.

Cada país tem suas leis, sua constituição, sua convicção religiosa, mas é inadmissível ver atitudes jurássicas, como esta, mantendo práticas milenares.

A mulher de hoje não pode continuar sendo encarada como um objeto irracional, um ser inferior. Ela ganha espaço cada vez maior entre os homens, pela sua competência e comprometimento. Tem o dom feminino de enxergar e sentir coisas que o universo masculino não consegue apreciar. Um exemplos é a magia da maternidade e o milagre do nascimento. É inenarrável esse sentimento abençoado.

Como mulher, sinto na pele, às vezes, comentários machistas tentando diminuir-me ou ridicularizar-me diante de algumas situações. Por trás de alguns comentários, percebe-se claramente, que por ser a primeira mulher a governar essa cidade, falam do batom que uso ou da cor rosa de minha preferência, mas não falam que fui a pessoa que conseguiu em 154 anos de fundação desta cidade, o primeiro hospital municipal, ou jamais admitem que sou eu, “uma mulher comum”, que está conseguindo resolver o problema da enchente, que castiga Ribeirão Preto há 80 anos.

Um jornalista e um de seus artigos agressivos, falou da cor de minha bicicleta, mas não usou de humildade para dizer que estou implantando a primeira ciclofaixa de lazer na cidade.

É muito claro para nós mulheres, que a maioria das agressões a nós dirigidas é verbal. Não apenas batem com as mãos, mas batem com palavras. Frases amoladas, afiadas, que machucam, sangram, ferem almas e tornam-se incuráveis.

Onde está a Lei Maria da Penha para esses casos? Estou com vários processos na justiça contra muitos que tentaram me intimidar. Espero um dia, serão julgados.

Não se atinge a perfeição em meio a tapetes de flores. Os espinhos fazem parte da caminhada. É natural, portanto, que a crítica me alcance. E toda crítica é bem vinda quando construtiva. Só não é aceitável a feita com o propósito de desacreditar, desmoralizar, desconstruir por uma questão meramente preconceituosa.

Peço a você mulher, que por maior que seja a dificuldade, continue firme, com a certeza de que estamos construindo para o futuro, uma história mais justa para o próximo século.

A vida é um grande desafio. Seja forte diante das pancadas. Lute. Não desanime. Ouse sempre. Precisamos caminhar juntos, homens e mulheres. Assim tem sido milha luta diária.

Quanto à mulher do Irã, que Deus abençoe esse país para que ele prospere e que o seu despertar ocorra para a justiça e a evolução do planeta.


Dárcy Vera – Prefeita Municipal

darcyvera@darcyvera.com.br

4 comentários:

  1. Darcy, assino embaixo de tão lindo artigo sobre a mulher. Já tive a oportunidade de ajudar um homem da família e na primeira oportunidade se saiu com tal comentário: tinha que ser mulher...sofrivel mas retrata o quanto o macho está despreparado para ser auxiliado por uma fêmea nas mais diversas formas...

    ResponderExcluir
  2. Darcy!
    Palavras profundas em um texto de uma sensibilidade quase palpável! Urgem novas posturas e iniciativas, como as suas!

    Obrigada pela oportunidade de conhecer mais um lado seu, repleto de força sem que seja perdida a sensibilidade feminina!

    Mariana Monroy - Psicóloga

    ResponderExcluir
  3. Parabéns Dárcy, por ser inspiração para mulheres e homens da nossa cidade. Este artigo é mais uma demonstração da combinação de sua força, energia e sensibilidade para captar necessidades e prioridades da população e transformá-las em realização. Que Deus lhe ilumine sempre nesta missão de fazer o bem.

    ResponderExcluir
  4. Nós mulheres nascemos para suportar dores físicas, como a de um parto, depilação e desastres das manicures, mas não nascemos para sermos agredidas fisicamente e moralmente pelo machismo em nosso século, no qual ainda temos muito que enfrentar. E força nós mulheres temos em demasia, mas é preciso sermos menos omissas e usar mais a nossa coragem para mostrar que nós temos muito potencial para sermos mães, filhas, esposas, mulher e autossuficientes para assumirmos, também, toda e qualquer profissão.

    ResponderExcluir