No ano em que a Lei Maria da Penha completa sete anos, o Brasil dá mais um importante passo em direção à defesa das mulheres. O Senado aprovou, na última semana, quatro projetos sugeridos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência contra a Mulher. São quatro documentos diferentes, mas com um mesmo objetivo.
Uma das propostas classifica a violência doméstica como crime de tortura. A outra, aprova o atendimento especializado no Sistema Único de Saúde (SUS) às mulheres vítimas de violência. Também foram aprovadas a garantia de benefício temporário da Previdência a elas, além da exigência de rapidez na análise do pedido de prisão preventiva aos agressores.
São projetos que agora passarão pela análise da Câmara dos Deputados. Projetos importantes, que voltam os olhares do Congresso a nós. Em um país que pela primeira vez é comandado por uma mulher, é fundamental que encontremos caminhos rumo ao fim do preconceito.
A aprovação desses projetos aconteceu na semana em que São Paulo recebeu o 9º Encontro Internacional da Marcha das Mulheres. A ação foi classificada como uma “luta contra a globalização da indiferença”, segundo a ministra da Secretaria Nacional de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci. Mais de mil mulheres, de 48 países, se reuniram na capital. Clamaram por direitos. E deram outra mostra de que juntas podemos chegar cada vez mais longe.
Mas ainda há outra boa notícia. Mais projetos em favor das mulheres devem tramitar em Brasília. Há outras três medidas que também estão encaminhadas: a proposta que estabelece o “feminicídio” (um agravante do homicídio, nos casos em que se mata uma mulher); a criação do Fundo Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres e a proposta que destina parte dos recursos do Fundo Penitenciário Nacional a abrigos que acolham vítimas de violência doméstica.
Nós, mulheres, estamos conquistando mais espaço, mais oportunidades e mais vitórias. Lutamos muito e essas conquistas começam a dar frutos. No Brasil, nunca estivemos em tantos cargos de chefia, em tantas diretorias. Nunca tivemos tanta carteira assinada, tantos benefícios em nossos empregos. Portas se abrem e oportunidades aparecem. Mas ainda há lutas pela frente. Mulheres com mais de 50 anos, por exemplo, ainda enfrentam preconceitos por causa da idade. Isso precisa ser vencido, pois trabalhadoras experientes perdem vagas por causa da idade e empresas perdem grandes profissionais.
Como prefeita, eu sabia que enfrentaria muitos desafios, não apenas pelo cargo que ocuparia, mas também por ser uma mulher à frente da Administração. É fato. Ainda enfrento preconceitos e as cobranças são maiores. Conversando com outras colegas prefeitas, vejo que enfrentam os mesmos problemas. Somos mais cobradas e mais exigidas do que homens no poder. A ignorância de poucos chega a doer na alma. Quando não conseguem atingir a parte profissional, tentam nos desclassificar moralmente. O que precisamos é de um tratamento sem preconceitos.
Eu sabia que seria grande desafio ser a primeira mulher prefeita num universo que sempre foi masculino. Mas sou igual a qualquer mulher brasileira, cheia de fé e esperança. Guerreiras do dia a dia, que cuidam de casa, da família e do trabalho. Cada minuto, um desafio. Cada obstáculo, uma nova luta.
Por todas essas conquistas de anos de luta, digo a todas as mulheres: - Nunca desistam. O caminho ainda é longo e juntas, vamos chegar lá.
Dárcy Vera
(artigo publicado na edição de 03 de setembro do jornal Tribuna, de Ribeirão Preto)
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